28/11/07

INTERVALO....

Olá, amigos
peço desculpa aos eventuais interessados
mas não tenho conseguido
editar postagens
em consequência da agitada vida profissional
que ainda levo
da gestão de duas webs TV
.
TELEVISÃO DA VENDA DO PINHEIRO
.
TV PORTUGAL
.
e da produção da iniciativa
FLORES PARA BEATRIZ
tributo a Beatriz Costa
no início da celebração do seu 1º centenário
que estou a produzir
.
que me impedem por agora
de desenvolver
este espaço.
.
com Forte abraço de Amizade
VOTOS DE BOAS FESTAS
E DE FELIZ ANO NOVO
Nunes Forte

12/09/07

Cinema... com António Sala.

Mais um salto no tempo.

Na Rádio Graça nos anos 60, entre outros, fiz amigos que ainda hoje mantenho, o José Manuel Lourenço (que também teve uma excelente carreira radiofónica (do Rádio Ribatejo à RDP) e que actualmente é quadro superior de uma multinacional) e o António Sala que está neste momento a celebrar 40 anos de profissão. Conheço-o e apoio-o desde os primeiros passos na profissão. Mas isso são outras histórias. Hoje mais do que texto e fotos tenho aqui um pequeno vídeo para vos mostrar que está integrado no DVD ANTÓNIO SALA, O COMUNICADOR, produzido há mais de 4 décadas e que só agora foi tornado público. Familiares e amigos deram-nos toda a colaboração como actores.

Em "Jogos Perigosos" participou o meu amigo de infância Fausto José Ferreira que também já estava a viver em Lisboa e que fez de meu irmão.

O objectivo deste e doutros filmes que fizemos era treinar técnicas de filmagem e edição. António Sala que era o dono do material foi o câmara (e fez agora a voz off nesta síntese do filme que originalmente tinha cerca de 30 minutos) a mim coube-me interpretar, realizar e editar, durante longos dias nos "nossos estúdios", a casa da mãe e avós do António Sala.



07/08/07

Faz-se caminho, caminhando...

Nestas histórias não tenho preocupações de ordem cronológica por isso talvez tenha de voltar atrás algumas vezes.

Nas minhas recordações estou agora de abalada da minha terra natal.

- Vamos para Lisboa, dizia o meu pai, mas é para estudares e trabalhares "numa profissão a sério" que isso de ser actor é muito bonito, é muito bonito, mas não te garante um emprego para "toda a vida".

(Como as coisas mudam, Santo Deus. Actualmente já não existem empregos para toda a vida, nem mesmo nas "profissões sérias".)

E lá fomos para a grande cidade, a minha mãe, o meu pai e eu.

Como já tinha passado
o prazo das matriculas
aceitaram-me
como "assistente"
na Escola Eugénio dos Santos
em Alvalade.
No ano lectivo seguinte
matriculei-me no curso nocturno
da Escola Industrial
Machado de Castro em Campo de Ourique, onde - como soube mais tarde - Laura Alves também estudara.


Vais ser serralheiro mecânico, que é uma profissão de futuro!
- determinou o meu pai.

Fui então como aprendiz de serralheiro para uma oficina do meu tio António Teixeira no Bairro S. Miguel e meses depois com o mesmo estatuto para a Mocar, representante da Alfa Romeo e da Peugeot. A certa altura consegui negociar com o meu pai:

- Prometo manter as boas notas e continuar na "profissão séria" se nos meus tempos livres me deixarem fazer teatro!

- Mas que teimosia a deste rapaz. Para o que lhe havia de dar.

E depois de muito ponderar:

- Pronto está bem, faz lá o que quizeres nos tempos livres, desde que não falhes na Escola, nem faltes no trabalho.

Prometi e cumpri, apesar de algumas directas por causa do teatro e da rádio, tendo mesmo conseguido na Machado de Castro figurar no "Quadro de Honra" como resultado de muita aplicação, para que não houvesse problemas lá em casa e pudesse seguir os meus sonhos.
Na Escola estabeleci amizade, com Santos Teixeira, meu colega de turma, chegando à conclusão que tínhamos sonhos artisticos idênticos.

Convidou-me então a conhecer uma Companhia de Teatro Amador, onde já estava integrado, que ia levar à cena no Cine-Teatro de Alverca a Revista
"Tá Bem... Dêxa".


- Que pena, ser uma Revista. Gosto muito, como espectador, mas faltam-me aptidões para esse género, porque não tenho qualquer jeito para cantar, nem para dançar.

- Está bem, mas se quiseres, vais comigo e depois logo se vê.

Lá fui, embora consciente dos meus handicaps.

- Então queres ser actor?! É que como trabalhador-estudante não vai ser fácil. Como vais ter menos ensaios precisas de aproveitar todos os bocadinhos para estudares os papéis. Quanto ao canto e à dança não te preocupes, porque para isso temos cá gente com valor.

E tinham, como o Ilídio de Azevedo, que podia ter sido um grande artista de variedades, mas que quedou numa "profissão séria" governando a vida como empregado de escritório.

- Então qual é o teu nome artistico?

- Não tenho, chamo-me Evaristo António Gonçalves Nunes Forte (Evaristo para a família e Forte para os meus amigos)

- Evaristo... Evaristo não dá, faz lembrar aquela cena do Vasco Santana com o António Silva: "Ó Evaristo tens cá disto".

- Pois é... eu sei.

- Olha, como agora estão na moda os apelidos (aqui no elenco temos vários e na televisão, por exemplo, há o Fialho Gouveia e o Gomes Ferreira) porque é que não ficas "Nunes Forte"?!


NUNES FORTE ...
Ao principio estranhei, mas depois entranhou-se.

Pronto, estava numa companhia de teatro, amadora é certo, e até já tinha nome artistico que acabou por me assentar que nem uma luva, porque de facto me sinto "plural (Nunes) e singular(Forte)", embora às vezes me chamem Nuno Forte ou Nunes Fortes.

Tive excelente trabalho na Revista "Tá Bem... Dêxa".

Do 1º acto recordo "O Pintor e a Bailarina", com a pequena Maria Augusta, sobrinha de outro colaborador, o António Cairú, que mais tarde participou em programas da RTP e que emigraria para a Inglaterra onde editou livros de Poesia. O número mostrava um artista em crise que recuperava a inspiração depois de uma bailarina que lhe ter aparecido em sonhos. Correu bem e o público gostou.
Entre outros quadros - alguns de comédia, como o "Trio de Falidos", "O Cupido" e "O Benfiquista" - foi-me distribuida uma excelente rábula na 2ª parte intitulada "O Empresário", inspirada na peça "A Anedota" de Marcelino Mesquita, com um candidato a actor - inicialmente recusado pelo empresário - com episódios da "sua vida" vai divertindo e comovendo o empresário.

A certa altura o candidato revelava que fora tudo inventado, que apenas estivera "representar" tendo assim convencido o empresário com persistência e convicção que merecia um lugar no Teatro.

Fiquei com "pele de galinha" perante a entusisástica e para mim surpreendente reacção do público.


Anos mais tarde - como que passando da ficção à realidade - pedi a António Couto Viana para utilizar um excerto da "Anedota de Marcelino Mesquita (onde um actor pede trabalho ao empresário) como teste para "concorrer" ao Gerifalto no Teatro da Trindade. Couto Viana aceitou, mas sempre foi dizendo que o elenco estava completo.

No final do teste fui contratado.

Voltando à "Tá bem... dêxa" não tive problemas quanto ao canto e à dança apenas porque entrava nos finais de acto onde todos faziamos coro com o Ilídio. Acho que com o "barulho das luzes" não fiquei chamuscado.


O sucesso do espectáculo fez-me esquecer os cansativos ensaios em Alverca para onde ia de comboio todos os fins de semana, após o almoço de sábado, regressando na madrugada de 2ª feira, só com algumas horas dormidas numa cadeira da plateia, enquanto aguardava a minha vez de ensaiar.

O espectáculo era cenograficamente luxuoso. Tinha cenários de Hernâni e Rui Martins, alguns utilizados em "Fogo no Pandeiro" e outros em "Há Festa no Coliseu".

Havia também temas musicais de êxito de Raul Portela a emoldurar os textos originais de Ramiro Correia e Silva Marques, que também assinava a produção com Fernando Amaral.

A estreia foi a 5 de Maio de 1960 (já lá vão mais de 47 anos!) referida pela Vida Ribatejana: "(...) a sala encheu-se de lés-a-lés. O espectáculo satisfez e houve números que foram entusiasticamente ovacionados (...) e terminou em apoteose com a apresentação, um a um, de todos os componentes que foram recebidos com muitas palmas" .

Entre os espectadores estiveram a minha mãe e os meus tios António, Vasco e Augusta Nogueira que ficaram tão surpreendidos comigo que me ofereceram um anel de ouro, com uma pedra preta, para que nunca esquecesse aquele momento em que começava a concretizar os meus sonhos.

Depois de Alverca ainda apresentámos a revista "Tá Bem.. Dêxa", com cenários adaptados a palcos mais pequenos, no Clube Desportivo da Charneca do Lumiar e no Salão Fanqueiro em Loures.


À Charneca e a Loures ainda voltei com a mesma Companhia num papel principal da peça policial "Quem Matou ?" de Silva Marques.

No final do espectáculo no Fanqueiro em Loures, distraimo-nos com os cumprimentos e os abraços de parabéns e... perdemos a última camioneta.
- Então e agora?
- Agora, temos de ir a pé para Lisboa...
- A pé?! É longe e sempre a subir.
- Olhem, é melhor subir que descer. E isto é só o principio. Então o que é querem?! Toca a andar, porque amanhã é dia de trabalho!


E lá fomos de Loures
até Lisboa,
sempre a subir,
com "as malas às costas".
Quando chegámos ao cimo
da Calçada de Carriche
também já não havia
transportes públicos
e, para nós,
os táxis eram
demasiado caros.



Apesar do longo percurso, com a galhofa própria da idade, nem sentimos o cansaço. Falámos de tudo e de mais alguma coisa, sobretudo das dificuldades e das "facilidades" que algumas e alguns tinham para ascenderem ao estrelato, com "madrinhas e padrinhos" certos. Mas ali assumimos um compromisso: Se conseguissemos alguma coisa haveria de ser apenas com trabalho. Mantive-me fiel a esse compromisso.

Pelo caminho foram ficando, um a um, os meus companheiros, tanto naquele percurso, como mais tarde na vida artística.

No Arco do Cego já ia sozinho, mas via claramente que o caminho não ia ser fácil.

Finalmente, cheguei a casa na Rua da Penha de França, mesmo junto a Sapadores.

A cidade estava a acordar e só tive tempo de tomar um duche, pegar na lancheira com o almoço que a minha mãe preparara de véspera, meter num saco o fato macaco de operário, pegar nos livros e sair a correr para mais uma semana de trabalho e de escola.

Havia ainda tanta estrada para percorrer, teria forças para isso?!

Mas daquela longa viagem a pé, sempre a subir, do Fanqueiro a Lisboa ficara a lição de que nunca se deve desanimar perante as dificuldades.

FAZ-SE CAMINHO, CAMINHANDO!

31/07/07

não basta querer

- Músico ou aviador!

Era assim que respondia à clássica pergunta "O que queres ser, quando fores grande?".

Não fui músico nem aviador. Músicos conhecia os das Filarmónicas que acompanhavam as Procissões de Nª Senhora de Monte Carmo e aviões apenas de gravuras, como o que estava pintado na "barraca do fotógrafo" onde fui "pilotar" com a minha mãe Maria de Jesus. Mas o meu querer mudou com a leitura.
Desde que me conheço, que o que mais gosto de fazer é folhear livros e jornais. Mesmo antes de saber ler passava o tempo fingindo que lia, dando o tom de leitura às histórias impressas que a pedido o meu avô António Nunes Forte me havia lido vezes sem conta.
Aos quatro, cinco anos era tal a convicção com que o fazia, que parecia mesmo estar a ler, provocando a admiração entre os clientes da barbearia do meu tio Joaquim Forte, na Venda do Pinheiro, onde passei alguns dias da minha infância vestido com uma bata branca, igualzinha à que ele usou até ao seu último dia de trabalho.

Por volta dos seis anos, aprendi a ler pela Cartilha de João de Deus ensinado por D. Filipa Baião do Nascimento, que durante algum tempo viveu com o filho António na Rua do Alto da Neve, bem perto da minha casa.
O Antoninho, como tantos outros meninos daquela idade, estava a "ares" a conselho médico no micro clima particularmente saudável da Venda do Pinheiro, então uma terra de veraneantes, que fazendo jus ao nome, era uma pacata aldeia da freguesia do Milharado rodeada de pinhais.

Com a familia Baião do Nascimento - onde além do António, praticamente da minha idade, havia também a Terezinha e o Zé - mantive estreita ligação ao longo dos anos, mesmo em Lisboa onde os visitava na casa da Praça do Chile, até que os diferentes ritmos da vida nos foram afastando do convivio, mas não do meu coração.

A partir dessa altura, qual jogo das escondidas, qual jogo da bola, qual quê, o que queria mesmo, era ler, ler de verdade.

Lia tudo das histórias clássicas e romances às revistas como "O Mundo de Aventuras" e "O Cavaleiro Andante" compradas pelo meu avô na Alfaiataria do Senhor Ferreira que também tinha uma secção de papelaria e livraria.












De Lisboa vinha o "Titã" trazido pelo meu pai ao fim de semana e que aguardava com expectativa.
Praticamente a única excepção às leituras "eram as animadas festas do tóino da Amélia" que no olival em frente da sua casa armava um "arraial" com canas, decorado a preceito com "festões" que mais não eram que pedaços de papel de jornal pendurados em cordéis. Depois montava os "cavalinhos" e a "pista dos carrinhos" com pedras e troncos de árvores em circulo a "fazerem de conta" que eram o carroucel e num rectangulo para "circularem" os carrinhos de choque. "É só mais uma voltinha... Não subam, nem desçam com o carroucel em movimento". É entrar, é entrar!" O Eurico, o Zézinho e eu éramos os principais clientes dessas festas. Pagávamos com pinhões que apanhávamos ali perto e depois sentados nas pedras e troncos "rodávamos"... ao sabor da imaginação. Para criar ainda mais ambiente o António ia atirando ao ar pequenas canas, os foguetes, enquanto gritava: "vcheeeeee.... pum, pum, pum"! Era mesmo uma festa, podem crer!

Fora disso e sempre que podia ia para a "Quinta dos Estrangeiros" ao fundo da qual corria um pequeno riacho (com dois palmos de água) onde com o Victor Caetano e o Xico Casal, entre outros, cheguei a tomar banho em pelota.
Nessa quinta, havia um lugar de magia para mim: o forte da quinta. Imaginava que havia lá uma gruta como a do Ali Bábá que com a palavra "Abre-te Sésamo" poderia deslocar a grande pedra de entrada totalmente invisivel aos olhos dos crescidos. Mantive a minha gruta secreta, e a verdade é que até hoje ninguém encontrou a tal entrada, nem quando esventraram parte do monte para o acesso da A8 à Venda do Pinheiro ou quando lá colocaram antenas de telemóveis mesmo em cima do meu castelo, que embora rodeado por um fosso de defesa foi desaparecendo ao longo dos tempos. Na verdade não existia qualquer um castelo, mas o fosso era verdadeiro e pertencia ao "forte" escavado o alto daquele monte que fez parte da defesa das Linhas de Torres durante a 3ª Invasão francesa como muitos anos mais tarde vim a saber.
Era ali que me isolava lendo em voz alta para melhor entender os textos.
Quando entrei para a Escola oficial, D. Júlia Barros, que já fora professora do meu pai Alfredo e dos meus tios Joaquim e Sabino, ficou espantada com aquele rapazinho que lia correctamente e "interpretava" os diálogos fazendo vozes diferentes.
- Ó rapaz, a leres assim, ainda vais parar ao teatro. Talvez qualquer dia façamos a peça "A Rainha Santa " onde há um bom papel para ti.
E até chegou a contar de como seria representado um dos milagres de Santa Isabel:
- Na cena em que a Rainha cura os mendigos as chagas serão desenhadas em papel e coladas à pele para que ao leve toque da mão de D. Isabel,desapareçam, como por milagre.
Nunca soube qual o papel que me estaria destinado na tal peça escolar, porque nunca se fez, mas a ideia de ir teatro é que não mais me abandonou - até porque entretanto assisti a dois factos que me marcaram bastante: a filmagem de umas cenas do filme "Dois Dias no Paraíso" e a estreia da Televisão em Portugal, histórias que ficam para outra altura. Ainda tentei "fazer teatro" com os meus amigos de infância, António, Eurico e Fausto José, mas não estavam para aí virados.

Por volta dos 13 anos estabeleci amizade com uns vizinhos espectaculares, um casal de irmãos, com um apelido invulgar: Veneno. E os Veneno e o Forte (que mistura, Santo Deus!) decidiriam "montar um espectáculo teatral " com um texto do livro FÉRIAS GRANDES de Odette de Saint-Maurice (de quem viria a ser grande amigo e colaborador) intitulado "UMA MALDADE" com 3 personagens, a Leonor, o avô Pedro e o Pobrezinho - que no romance juvenil era" interpretado pelo Pedro Macedo" - e que reservei para mim. O Pedro Macedo, figura de ficção, é um dos "muitos amigos" que fui fazendo entre as personagens que povoaram o meu imaginário e que saltavam dos livros que me emprestavam ou dos que o avô António me comprava e que alimentavam a minha fome de leitura. Os meus preferidos eram os livros de Odette de Saint-Maurice sobre a saga da Família Macedo, porque as personagens "tinham mesmo vida e cresciam comigo" (ao contrário de protagonistas de outras aventuras para jovens onde os anos passavam e eles ficavam sempre com a mesma idade).
Anos mais tarde soube que a escritora se inspirava na vida real para desenhar o perfil das suas personagens, o caso mais conhecido é o da sua empregada Rosa que ainda hoje trabalha em casa do viúvo da escritora. O Domingos, por exemplo, um rapaz que aparece em A QUINTA DE S. BOAVENTURA, tem alguma coisa de mim ou pelo menos reflecte o que a autora via em certos aspectos da minha maneira de ser, como me contou mais tarde a inesquecível grande amiga Odette de Saint-Maurice de que noutra altura hei-de de falar mais em pormenor. As personagens eram tão reais que muitos dos que "as conheceram" ainda vivem com elas. O Pedro Macedo, por exemplo, "um rapaz às direitas", tem hoje a minha idade, embora desde que Odette de Saint-Maurice nos deixou nada mais tenha sabido dele. A última coisa que li sobre o Pedro, já depois do 25 de Abril, era que ia para África, como médico, em missão humanitária.
Mas voltemos à tal peça integrada no livro FÉRIAS GRANDES com que "me estreei" e que foi levada a cena numa noite de Verão perante a Família e os vizinhos para dizer que foi um sucesso, claro. O público era da casa.
Dessa pueril experiência ficou um "veneno forte" no sangue: o Teatro.

A partir daí este saloito, nado e criado numa aldeia de roupa branca, muito perto da casa onde nasceu a popular Beatriz Costa, tinha uma resposta firme à pergunta "O que queres ser quando fores grande?": - ACTOR.

Só que, não basta querer.


30/07/07

dos sapatos da pastora a um aperto de mão

O Teatro do Gerifalto dirigido pelo poeta António Manuel Couto Viana, além de peças em directo na RTP, teve temporadas fantásticas no Monumental e Eden e especialmente no Teatro da Trindade, onde me estreei oficialmente no "Natal de Mestre Bento" em Dezembro de 1961, contacenando com a actriz Maria Bastos, que também foi minha colega no Rádio Ribatejo, nos Emissores Associados de Lisboa e mais tarde na RDP / Antena 1.
Os espectáculos do Teatro Gerifalto graças ao apoio da CML e Fundo Nacional de Teatro eram gratuitos, excepto em algumas sessões de Natal e Carnaval. Estavam sempre super-esgotados nos espectáculos normais com a presença de alunos da região de Lisboa ou nas sessões especiais com as famíliasNas épocas festivas chegávamos a fazer 3 sessões aos sábados, domingos e feriados; uma de manhã e duas à tarde, pelo que almoçavamos e lanchávamos no Teatro.

Certa vez, entre dois espectáculos da tarde, a Maria Bastos, uma profissional pontualissima, que interpretava a pastorinha (que está ao meu lado na imagem) foi lanchar a uma pastelaria em frente do teatro demorando-se mais do que previra.

À deixa "Catrina, Catrina !..." deveria entrar para me dizer onde estava uma das cabrinhas que ofereceria ao Mestre Bento, que acabara de ser pai.

Mas nesse dia por mais que chamasse a "Catrina" ... ela não aparecia!

Para "fazer tempo", já fora da marcação, procurei a "Catrina" por todo o cenário, e sem saber que mais fazer, suspirei de alivio com a chegada da pastorinha que finalmente surgiu "dentro da personagem", mas mais alta de que de costume, o que não era para admirar, porque com a precipitação entrara... de saltos altos.

Felizmente o vestido comprido de pastora disfarçou... e ninguém se apercebeu do anacronismo, para além de nós dois.

A minha colega, e grande amiga até hoje, é que jurou e cumpriu que nunca mais voltaria a lanchar fora do Trindade, porque o Teatro, mesmo para crianças, é assunto sério.

De outra vez, no final do mesmo espectáculo, tive um dos momentos pessoais mais marcantes dessa fase da minha vida, quando um pequeno espectador de nove / dez anos me encontrou à saida do teatro e sem confundir o intérprete com a personagem inquiriu:
- O senhor, desculpe, é o que faz de pastor, não é?
- Sou... e com os olhos brilhantes de alegria e simpatia pediu:
- Então, deixe-me apertar-lhe a mão...

E apertou com força a mão deste jovem principiante que eu então era e que ele vira a fazer de pastor ...

Não foi mais uma assinatura num papelito qualquer, como alguns queriam e que rapidamente esqueciam, mas um gesto especial, sincero, daqueles que ficam para sempre no coração.

Em momentos menos bons recordo aquele sentido aperto de mão, como que a dizer, força, continua.

Aonde quer que estejas, pequeno-grande espectador, Obrigado!




27/07/07

louca por ti



Cristina Cassola - colega em Folhetins radiofónicos e programas juvenis de Odette de Saint-Maurice na Emissora Nacional - protagonizou comigo a fotonovela "Louco por ti" na colecção "Idílio".
Nessa altura estava tão longe de imaginar que aquela jovem talentosa, boa colega e querida amiga estivesse a viver um autêntico drama de amor ...

Mas um dia Cristina desabafou contando-me que estava apaixonada por um homem mais velho, um actor de grande prestígio, Paulo Renato.
E porque o amor não era correspondido, a paixão tornou-se dolorosamente obssessiva.
A Cristina estava mesmo "Louca por ti", Paulo!

Desesperada, achando que assim não valia a pena viver, decidiu partir, sem dizer adeus, ainda a fotonovela andava de mão em mão enchendo de "ilusões românticas" milhares de leitoras ...

... só mesmo na "Idílio" é que houve um final feliz!




rádio de proximidade


A paixão pelo Teatro
levou-me até ao Rádio Ribatejo.

Acabei por não fazer nessa estação teatro radiofónico, como sonhara, porque não existia esse tipo de programas, mas fui aprovado para locutor pelo saudoso fundador, construtor e director da estação, o Capitão Jaime Varela Santos, pioneiro da rádio em Portugal!

Tinha a preocupação de nos alertar para a responsabilidade de estar ao microfone:" Não julguem que são mais importantes do que os outros por falarem na rádio. Têm é mais responsabilidade !".


E ali me formei eu, o António Sala, o José Manuel Lourenço, o Luís Cruz, a Eva ...
Por lá passou também o Fialho Gouveia, a Maria Helena (primeira locutora oficial da RTP), o Fernando Balsinha e tantos mais. Era uma autêntica Escola de Rádio.

Havia tal respeito pelos ouvintes que qualquer jovem só "entrava em directo e acompanhado pelos mais experientes" após mais de um ano de treinos em emissões gravadas nos estúdios em Lisboa, na Av. D. Rodrigo da Cunha em Alvalade.

Numa das primeiras emissões directas nos estúdios do Rádio Ribatejo nas Portas do Sol em Santarém (numa cabina totalmente montada pelo Capitão Jaime Varela Santos, tal como o respectivo emissor de Onda Média) ao lado de Amélia da Piedade num programa de "discos pedidos" em consequência de um "nome estranho" tivemos um ataque de riso incontrolável que nos valeu severa reprimenda do Director, que ouvia sempre as emissões com atenção para "criticar", mas também - quando era o caso - para aplaudir!
De então até hoje passaram mais de 4 dezenas e meia de anos de rádio, teatro, espectáculos e televisão com muitas histórias ...
Aqui iremos contando algumas ...

O tal programa de "discos pedidos" do Rádio Ribatejo era um "líder de audiências" e, mais do que isso. numa época de dificeis acessibilidades e transportes, servia de meio de comunicação entre as famílias.

Nas cheias do Ribatejo, por exemplo, a rádio era a única companhia para os que ficavam isolados pela rápida subida das águas. Era uma "rádio de proximidade".

Um dos casos mais curiosos que recordo dessa época é o de dois jovens amigos que trocavam mensagens através do programa (ainda não havia SMSs, claro).
Por intermédio do programa, passaram da amizade ao namoro, noivaram e decidiram casar convidando-nos para a cerimónia nupcial.
A Amélia da Piedade e eu não aceitámos o convite porque o programa era em directo, mas os noivos e os seus convidados fizeram questão de nos visitarem nos estúdios logo que sairam da Igreja, por nos considerem também seus "padrinhos".

Ao fim da tarde ainda enviaram para a equipa de locução e técnica, bebidas e bolo de noiva. Deveras emocionante, podem crer.

A vida dá muitas voltas e perdemos o contacto, mas quero acreditar que (como nos contos de fadas) tenham continuado a viver felizes... para sempre!